Saúde

Manutenção da boa saúde bucal é crucial para evitar doenças

Cárie dentária, doença periodontal, diabetes mellitus e Alzheimer são alguns exemplos de doenças que podem estar associadas e diretamente ligadas à saúde bucal


Felipe Medeiros*, Jornal da USP | 26/04/2025 | 07:30


Higiene bucal pode significar a diferença entre saúde e doença | Foto: Freepik

higiene e manutenção da saúde bucal se mostram fundamentais para a saúde e bem-estar das pessoas. Um dos principais motivos é que, além de causar doenças comuns na boca como a cárie, periodontite e candidíase, a falta da boa condição bucal pode estar associada a algumas doenças sistêmicas, como doenças cardiovasculares, diabetes mellitus e doença de Alzheimer.

No Brasil, menos da metade da população recebe cobertura de saúde bucal adequada, que inclui um conjunto de procedimentos, tratamentos, exames e tipos de atendimento que um plano odontológico ou o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece. Segundo levantamento do Ministério da Saúde (MS), divulgado em junho de 2024, o País registrava cerca de 45% de cobertura em saúde bucal, bem distante da meta estabelecida pelo Ministério de 70%.

Manter a boa saúde bucal é fundamental porque, segundo a professora Ana Carolina Fragoso Motta, da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp) da USP, a boca é uma importante porta de entrada para diversas doenças. “A boca é um órgão que faz parte tanto do sistema digestivo quanto do sistema respiratório e, pelo fato de estar em contato com o meio externo quando comemos, falamos ou respiramos, é uma das primeiras partes do corpo a entrar em contato com microrganismos que podem causar doenças”, explica.Outro ponto muito importante, segundo a professora, “é que a boca tem muitas estruturas e condições favoráveis para a colonização de um grande número de microrganismos, como bactérias, fungos e vírus. Muitos desses microrganismos, principalmente bactérias, têm a capacidade de aderir aos dentes e próteses com a possibilidade de causar doenças na boca que, em indivíduos suscetíveis, podem causar repercussões à distância”.

Ela explica como a saúde bucal pode influenciar a saúde geral do corpo. “Já há diversos estudos demonstrando que infecções na boca podem causar repercussões negativas em diversos órgãos e sistemas. Sabe-se, por exemplo, que a sobreposição entre a inflamação causada pela doença periodontal e pelo diabetes mellitus resulta em um estado inflamatório sistêmico exacerbado, o que piora tanto a doença periodontal quanto o diabetes. Da mesma forma, a presença de focos de infecção pode exacerbar reações inflamatórias à distância, como, por exemplo, em algumas doenças cardiovasculares e na artrite reumatoide.”

Algumas condições podem ser agravadas por inflamações bucais e processos infecciosos, como o diabetes e a artrite reumatoide. “Existe uma preocupação, principalmente, em relação a doenças cardiovasculares. Um exemplo é a endocardite infecciosa, doença incomum, porém grave, que pode estar associada a microrganismos que habitam a boca e circulam, via corrente sanguínea, até os tecidos danificados do coração.” A Sociedade Brasileira de Cardiologia, destaca a professora, recomenda inclusive, como métodos preventivos não farmacológicos, a manutenção da saúde bucal e hábitos adequados de higiene bucal para prevenir a endocardite infecciosa. 

Sobre as doenças neurodegenerativas, há estudos relatando que componentes da membrana das células de bactérias e mediadores inflamatórios têm importante impacto na função cerebral. “Mais recentemente, estudos têm demonstrado associação entre microrganismos associados à doença periodontal e a doença de Alzheimer. Acredita-se que a carga bacteriana e o processo inflamatório ligados à periodontite podem intensificar a inflamação no sistema nervoso central, favorecendo o surgimento da doença de Alzheimer.”

Os hábitos também influenciam diretamente na qualidade da saúde bucal. “É fundamental realizar higiene adequada escovando os dentes, as próteses e usando fio dental. Ter uma alimentação saudável, evitando o excesso de açúcar e marcar consultas regulares ao dentista, pelo menos duas vezes ao ano, também são importantes. Evitar o consumo de bebidas alcoólicas e o fumo também é imprescindível, já que eles aumentam o risco de doenças bucais, com destaque para o câncer de boca.”

Outros fatores e doenças também podem impactar na saúde bucal. Entre elas, “algumas doenças como o diabetes mellitus com controle inadequado também podem afetar a boca, pois podem agravar a doença periodontal preexistente e causar candidíase bucal, principal micose da boca. Outro fator são os remédios, pois muitos deles (principalmente antidepressivos e ansiolíticos) causam secura de boca por reduzirem a produção de saliva e isso causa desconforto, alteração do paladar e aumento do risco a essas doenças bucais”.

Para pessoas que utilizam próteses dentárias, existem algumas ações específicas para manter a saúde bucal. “Deve ser usada escova macia com creme dental, sabão ou detergente. Ainda é recomendada a desinfecção das próteses totais, conhecidas como dentaduras, por meio de uma solução contendo hipoclorito de sódio ou qualquer outro produto para essa finalidade. Uma dica caseira é deixar a dentadura por 15 minutos, uma vez ao dia, em um copo de 200 ml de água com uma colher de sopa de água sanitária.”

As próteses protocolo necessitam de uma maior atenção. Segunda a professora, “essas próteses são fixadas nos implantes, então a sua higiene requer mais cuidados na limpeza para evitar acúmulo de placa bacteriana sob a prótese e consequente infecção e inflamação nos implantes, conhecido como peri-implantite, e ainda prevenir infecções fúngicas como a candidíase. Normalmente, essas próteses só podem ser retiradas por um profissional, então a consulta regular ao dentista, idealmente a cada 3 meses, é importante para a remoção e limpeza adequada tanto das próteses quanto dos implantes”.

A professora Ana Carolina destaca mais algumas medidas para a manutenção da higiene das próteses sobre implantes. “A higiene diária pode ser favorecida com o uso de escovas específicas que alcancem a área sob as próteses, como escovas do tipo interdental, escovas tipo unitufo complementadas com a escova dental macia e o uso de fio dental. Além disso, essa frequência de retirada das próteses é importante para que o dentista possa examinar os tecidos abaixo da prótese, pois já há relatos na literatura científica de surgimento de lesões benignas e malignas abaixo das próteses, que tiveram seu diagnóstico tardio em virtude da não retirada das próteses com frequência.”

 

(*) Estagiário sob supervisão de Ferraz Junior e Gabriel Soares

 

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