Leia artigo do químico Brenno A. D. Neto, professor da UnB
Imagine se a qualidade de um cientista fosse medida não pelo impacto real de suas descobertas, mas por apenas um número atrelado às revistas nas quais ele publica artigos científicos. Parece absurdo? Pois essa é a realidade que vivemos e que há décadas tem se cristalizado no meio acadêmico.
O fator de impacto dos periódicos (journal impact factor, ou JIF) surgiu nos anos 1960 como um recurso para ajudar bibliotecas a selecionar quais revistas científicas deveriam ser assinadas. Até aí, tudo bem. Mas o que ninguém previu foi que esse índice, criado com um propósito meramente administrativo, se tornaria uma obsessão global, que quase sempre tem distorcido a própria ciência.
Atualmente, o JIF é tratado como sinônimo quase absoluto de qualidade científica. Universidades, órgãos de fomento e até mesmo os próprios pesquisadores utilizam esse número como critério de avaliação. Como consequência, cientistas enfrentam uma pressão, por vezes anormal, para publicar em revistas com um JIF elevado, o que leva a uma série de distorções no processo científico:
Esses problemas são apenas alguns e se tornam ainda mais evidentes quando comparamos revistas de longa tradição com outras que surgiram recentemente. Como eu pude discutir recentemente em um editorial do periódico The Journal of the Brazilian Chemical Society (JBCS), por exemplo, os periódicos The Journal of Organic Chemistry e o Tetrahedron Letters são reconhecidos como referências na química orgânica há décadas. No entanto, seus JIFs atuais são inferiores aos de algumas revistas mais novas e menos relevantes. Ainda assim, qualquer químico orgânico sério sabe que JOC e TL são periódicos fundamentais para a área, e que um artigo publicado neles carrega um peso científico muito maior do que os números frios do fator de impacto poderiam indicar.
A cultura do JIF não apenas prejudica a ciência, mas também afeta a trajetória de muitos pesquisadores. Jovens cientistas, especialmente aqueles em início de carreira, sentem-se pressionados a publicar em revistas de alto impacto para garantir bolsas de pesquisa, promoções e reconhecimento acadêmico. Esse cenário leva a uma competição acirrada e, muitas vezes, desleal, em que a produtividade é medida mais pelo fator de impacto das revistas do que pelo real avanço gerado do conhecimento.
Além disso, essa obsessão reforça desigualdades. Pesquisadores de países (ou instituições) pobres, que muitas vezes enfrentam dificuldades para acessar equipamentos, reagentes ou colaborações de ponta, encontram ainda mais barreiras para publicar em periódicos de alto JIF. Isso gera um ciclo vicioso.
Mudanças no horizonte
O problema não está apenas no JIF, mas no peso que damos a ele. Muitas instituições de ensino e pesquisa já perceberam que as métricas devem ser uma consequência do bom trabalho, não um objetivo a ser perseguido a qualquer custo. Grandes editoras e revistas têm adotado políticas mais éticas, como a recomendação da Declaração de São Francisco sobre Avaliação da Pesquisa (DORA), que propõe que cientistas sejam avaliados com base no mérito de seu trabalho, e não na revista onde publicaram.
Na prática, algumas mudanças estão acontecendo. Muitas revistas já removeram o fator de impacto de seus sites e materiais promocionais, focando na transparência do processo editorial e na qualidade da revisão por pares. Algumas universidades e agências de fomento também têm tentado reduzir a importância do JIF em suas avaliações. Mas ainda há um longo caminho a percorrer.
No JBCS, do qual sou o atual editor-chefe, acreditamos que o verdadeiro impacto de um artigo deve ser medido pela contribuição que ele traz ao conhecimento, e não por um número arbitrário. Nosso compromisso não é inflar métricas artificialmente, mas fortalecer a tradição, a seriedade e a qualidade da pesquisa que publicamos.
Se há algo que aprendemos ao longo dos anos é que cientistas sabem onde querem publicar – e essa escolha vai muito além de um número estampado em um site de métricas. Afinal, a ciência de verdade não se resume com apenas um numerozinho.
(*) Brenno A. D. Neto é químico pela UFRGS, onde também fez mestrado e doutorado. Desde 2009, é professor da UnB. É ainda editor associado da revista RSC Advances e editor-chefe do Journal of the Brazilian Chemical Society, e faz parte do conselho do periódico Chemical Society Reviews
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