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Duas novas espécies de peixe são encontradas nas cabeceiras do rio Sapucaí

Como vivem entre 1.000 e 1.500 m de altitude, espécies são mais sensíveis a mudanças ambientais


Agência Bori | 09/01/2025 | 02:00


Neoplecostomus altimontanus foi uma das espécies descobertas pelos pesquisadores na Serra da Mantiqueira | Foto: Pedro Uzeda/Acervo pesquisadores

Duas novas espécies de Neoplecostomus foram descritas nas cabeceiras do rio Sapucaí, afluente do rio Grande, que faz parte da bacia do alto Paraná. Ambas as novas espécies são endêmicas da Serra da Mantiqueira, Sudeste do Brasil.

Com a descoberta, a bacia do alto Paraná abriga 12 das 20 espécies conhecidas de Neoplecostomus. O relato está descrito em artigo publicado na revista “Neotropical Ichthyology”, de autoria de alunos de doutorado da Universidade Federal de Lavras (UFLA) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Amostragens em riachos de cabeceira têm sido promissoras na descoberta de espécies não descritas de loricarídeos (peixes de água doce) de pequeno porte. “Os cascudinhos do gênero Neoplecostomus costumam ter uma distribuição geográfica bastante restrita. Então, quando encontramos esses exemplares em uma região desconhecida para o gênero, pensamos mesmo que poderia representar uma espécie nova. Porém, quando analisamos exemplares de diferentes porções da bacia do rio Grande, percebemos que, na verdade, se tratavam de duas novas espécies, mesmo em áreas relativamente próximas”, comemora o biólogo Pedro Uzeda, doutorando em Ecologia Aplicada na UFLA.

As novas espécies podem ser diferenciadas das demais conhecidas por terem duas características curiosas. Os “cascudos” recebem esse nome por terem o corpo revestido por placas ósseas em vez de escamas. Porém, essas duas novas espécies apresentam uma redução de algumas dessas placas, fazendo com que as laterais do corpo fiquem quase lisas.

“Outra característica curiosa é que elas possuem dimorfismo sexual dentário: enquanto os machos têm cerca de 30 a 40 dentes grandes e grossos na mandíbula, as fêmeas têm cerca de 80 dentes, porém bem menores, mais finos e mais delicados. Essas são as principais características que diferenciam as duas novas espécies, mas outros detalhes, como padrão de coloração e medidas corporais, também são úteis para diferenciá-las”, explica Uzeda.

As duas novas espécies de peixes Neoplecostomus são como primos próximos, mas com diferenças marcantes. O Neoplecostomus altimontanus é mais discreto, com manchas escuras bem definidas espalhadas pelo corpo e uma nadadeira adiposa maior, que ajuda a se destacar em riachos de montanha sombreados.

Já o Neoplecostomus sapucai é mais colorido, exibindo barras claras no corpo e uma nadadeira adiposa menor ou até ausente, adaptando-se bem a riachos ensolarados e menos densamente vegetados. Essas distinções não são apenas visuais: refletem a forma como cada espécie se ajustou ao ambiente único onde vive, na altitude da Serra da Mantiqueira.

Os peixes se alimentam principalmente de algas e matérias orgânicas acumuladas em pedras e outras superfícies do leito do rio. Esse hábito ajuda a controlar o crescimento excessivo de algas, evitando um desequilíbrio que poderia prejudicar a qualidade da água e a vida de outros animais aquáticos.

Pelo fato de essas espécies viverem em altitudes maiores do que as conhecidas para o gênero até então, normalmente entre 1.000 m a 1.500 m, elas costumam ser mais sensíveis a mudanças ambientais, sendo muito importante o seu monitoramento, tendo em vista o cenário de mudanças climáticas.

“O mais importante agora é realizar monitoramentos regulares e levantamentos de biodiversidade nas regiões de ocorrência dessas espécies para entender como as mudanças ambientais, causadas por ações humanas, podem estar afetando essas espécies e os seus ambientes de forma geral”, enfatiza Uzeda.

Esse trabalho foi fruto do financiamento provido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).


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