Saúde

Movimento livre de bebês em creches promove autonomia e aprendizagem na primeira infância, aponta estudo

Professores que trabalham com a abordagem Pikler devem acompanhar e garantir a segurança das crianças sem interferir na exploração do espaço


Agência Bori | 08/01/2025 | 00:00


Profissionais e instituições que atendem a primeira infância devem promover espaços seguros e ricos em estímulos para as crianças | Foto: Freepik

Permitir que bebês se movimentem de forma livre pelo espaço da creche é essencial para promover experiências espaciais significativas durante a primeira infância, de acordo com um estudo publicado na revista científica “Educação e Pesquisa”.

O trabalho é parte da dissertação de mestrado do pedagogo Rafael Kelleter, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), que se baseou na abordagem Pikler, desenvolvida pela pediatra húngara Emmi Pikler em 1946. A abordagem busca criar um ambiente que incentiva a exploração, a descoberta e o desenvolvimento autônomo dos bebês.

Durante dez meses, Kelleter acompanhou oito bebês com idades entre 4 meses e 1 ano e 5 meses em uma creche particular de Porto Alegre que se vale da abordagem Pikler com as crianças.

“Muitas creches restringem a circulação de bebês por precaução, mas, na perspectiva desta abordagem, há a promoção de espaços, tempos e materiais e o acompanhamento do adulto para que os bebês possam se movimentar e fazer escolhas”, afirma Rodrigo Saballa de Carvalho, orientador de Kelleter e pesquisador da UFRGS. Os bebês eram cuidados por duas professoras, uma estagiária e duas auxiliares.

A liberdade dada às crianças pequenas lhes permitiu melhor desenvolvimento motor e maior interação entre si, na percepção dos pesquisadores. Na abordagem, os bebês são reconhecidos como sujeitos ativos e competentes desde o nascimento e, por isso, o papel dos adultos é observar, facilitar e prover um ambiente seguro e estimulante. Quanto aos espaços, na creche havia brinquedos, móveis e elementos naturais, como folhas, galhos, pedras e terra.

Além da abordagem Pikler, existem outras metodologias usadas em creches ao redor do mundo para estimular o desenvolvimento dos bebês. Em Portugal, por exemplo, há a Pedagogia-em-Participação, que promove a participação ativa das crianças no processo educativo.

Dos Estados Unidos, vem a abordagem High Scope, que foca em atividades planejadas e aprendizagem ativa. Da Itália, destaca-se a abordagem Reggio Emilia, que valoriza a expressão das crianças através de várias linguagens, como arte e música. Ainda em Portugal, o Movimento da Escola Moderna utiliza um modelo pedagógico que incentiva a colaboração e a autonomia.

Da Inglaterra, o trabalho de Elinor Goldschmied enfatiza o brincar heurístico, que é uma forma de as crianças explorarem o mundo ao seu redor através de objetos do cotidiano. No Brasil, apesar de não haver metodologias específicas tão difundidas, o conceito de brincar heurístico tem ganhado destaque nas creches.

O grande desafio para a adesão de abordagens pedagógicas, no entanto, é a formação de professores que atuam em instituições que atendem à primeira infância. É preciso que os adultos se atentem à promoção de espaços seguros e ricos em estímulos para as crianças, além de aprender a perceber as necessidades e se comunicar com os bebês.

“No geral, os bebês têm as suas necessidades de atenção pessoal atendidas, todavia em muitos casos não são reconhecidos como sujeitos de direitos, mas, na perspectiva que estudamos, eles são sujeitos sociais, já nascem pessoas, não são bebês que um dia serão pessoas”, reflete o pesquisador.

Carvalho e seu grupo de pesquisa defendem, no entanto, que existe a possibilidade de desenvolver a abordagem Pikler em instituições públicas, mesmo com suas limitações.

“Existem restrições porque há um número muito maior de bebês e um número menor de professores, os espaços são mais restritos, mas a abordagem pode inspirar as práticas nas instituições públicas a partir dos seus princípios, que podem ser recontextualizados em cada realidade”, afirma Carvalho.


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