Saúde

Proteínas de algas marinhas podem reduzir em até 95% a dose de antibiótico, aponta estudo

As lectinas, proteínas extraídas de organismos marinhos, podem se ligar à superfície bacteriana e potencializar a ação do antibiótico tetraciclina


Agência Bori | 10/01/2025 | 10:00


Para pesquisadores, no futuro, lectinas podem ser empregadas como agentes de reforço contra bactérias resistentes | Foto: Paul Einerhand/Unsplash

A combinação de proteínas extraídas de algas e esponjas marinhas com antibióticos clássicos pode potencializar a ação dos medicamentos e reforçar o combate a bactérias patogênicas. É o que aponta estudo publicado na revista “Anais da Academia Brasileira de Ciências”.

O trabalho foi realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC), e suas conclusões podem contribuir para o desenvolvimento de estratégias mais eficazes de tratamento para infecções bacterianas, incluindo aquelas causadas por linhagens resistentes.

Para investigar possíveis interações entre antibióticos, bactérias e lectinas — proteínas capazes de se ligar à superfície bacteriana —, os pesquisadores extraíram e isolaram oito tipos dessas proteínas, provenientes de algas e esponjas da costa cearense. A equipe testou e analisou combinações em diferentes doses de cada lectina com dois antibióticos amplamente utilizados nos sistemas de saúde, a oxacilina e a tetraciclina.

Os experimentos foram realizados em laboratório com duas linhagens de Staphylococcus aureus e uma variedade multirresistente de Escherichia coli, ambas bactérias capazes de causar doenças graves em humanos.

Ao serem aplicadas sobre as bactérias em conjunto com a tetraciclina, algumas variedades de lectina apresentaram a capacidade de reforçar o efeito do medicamento e ampliar sua atuação. “As lectinas podem fragilizar as células bacterianas e, assim, aumentar a eficácia do medicamento”, explica Rômulo Farias Carneiro, autor do estudo.

Ele diz que é possível que essas proteínas bloqueiem os mecanismos de defesa bacterianos responsáveis por eliminar os antibióticos, permitindo que o medicamento permaneça por mais tempo nas células e combata a infecção de maneira mais eficiente.

Entre as lectinas analisadas, as extraídas de algas vermelhas do gênero Bryothamnium se destacaram durante os testes, uma vez que reduziram em cerca de 95% a dose necessária de tetraciclina para inibir os microrganismos.

“Isso pode resultar em menos custos com antibióticos e menos efeitos adversos aos pacientes”, ressalta Carneiro. De forma geral, porém, as lectinas não foram capazes de favorecer a atuação da oxacilina, sugerindo que os efeitos são dependentes das características específicas de cada combinação.

De acordo com Carneiro, as conclusões do estudo podem alavancar a criação de estratégias de combate a infecções graves e de difícil tratamento.

“A busca por novos agentes antimicrobianos é essencial, mas também desafiadora. A abordagem estudada permite atacar as bactérias em duas frentes diferentes, reduz significativamente as chances de sobrevivência desses organismos e dificulta o desenvolvimento da resistência. Além disso, nosso estudo mostrou que algumas bactérias, anteriormente resistentes a certos antibióticos, tornaram-se sensíveis novamente quando o fármaco foi usado em conjunto com as lectinas”, afirma Carneiro.

Para ele, no futuro, é possível que as lectinas sejam empregadas como agentes de reforço para combater bactérias resistentes. “Essa abordagem pode ajudar a reduzir os custos dos tratamentos e oferecer soluções inovadoras para esse desafio global.”

Os próximos passos incluem a busca por outras combinações entre antibióticos e lectinas, ampliando as possibilidades de aplicação.

“Recentemente, obtivemos resultados ainda não publicados que indicam uma possível interação direta entre as lectinas e os antibióticos, o que sugere que elas poderiam funcionar como transportadoras, ajudando a direcioná-los para as células bacterianas”, conta.


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