Diagnóstico preciso e planejamento com união de esforços são vitais para recuperar solo e agricultura, segundo especialista
Nos últimos anos, o Estado do Rio Grande do Sul tem enfrentado uma série de desastres naturais como estiagens e enchentes, o que tem deixado um rastro de destruição em suas lavouras.
Uma preocupação que surge em meio ao drama dos gaúchos diz respeito à saúde do solo machucado e profundamente comprometido pelos eventos climáticos extremos que assolam a região.
Para o engenheiro agrônomo Maurício Roberto Cherubin, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP em Piracicaba, a magnitude dos danos ao solo já é um dos principais desafios enfrentados pelos agricultores gaúchos.
Cherubin destacou que as lavouras estão em final de ciclo. “Cada dia conta, ainda chove em algumas regiões do Estado, o que deixa o solo impróprio para que as máquinas trafeguem para a colheita, porque há muita umidade e o grão acaba sendo colhido úmido”, analisa.
Ele afirma que mesmo depois de mais de um mês de enchentes, fica difícil prever o que vai acontecer com a safra, mas “o fato é que uma boa parte foi comprometida”, assegura.
Segundo a Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), as estimativas indicam, até o momento, perdas de R$ 3 bilhões em decorrência das enchentes e a recuperação total do cenário agrícola deve levar uma década. E não é só isso. O professor Cherubin lembra que há cerca de quatro anos o Estado vem sofrendo com estiagem no período de verão. O prazo para normalização do cenário agrícola gaúcho de dez anos, previsto pela Farsul, se deve, em grande parte, ao trabalho de recuperação do solo.
“O solo encharcado e saturado impede a infiltração de mais água devido ao excesso de umidade, o que tem levado a sérias consequências como erosões que arrastam nutrientes, matéria orgânica e até mesmo camadas superficiais do solo, tornando-os irreparavelmente danificados. Para formar apenas um centímetro de solo, são necessários cerca de 300 a 400 anos, enquanto em um único evento climático, como as recentes enchentes, foram perdidos até 20 centímetros de solo em questão de horas e, dessa forma, a terra preparada para a lavoura”, afirma.
A situação é ainda mais alarmante devido à falta de oxigênio no solo saturado, que compromete a sobrevivência dos organismos responsáveis pela fertilidade e vitalidade, bem como o desenvolvimento adequado das plantas. “Sem oxigênio, os processos biológicos essenciais para a saúde do solo são interrompidos, levando à morte desses organismos e à degradação ainda maior do solo.”
Desafios para recuperação
A recuperação do solo danificado é um desafio complexo, no entanto, Cherubin ressaltou a importância de se reunir especialistas e formuladores de políticas públicas para desenvolver estratégias de manejo, que possam ajudar na recuperação e na prevenção de danos futuros.
Entre as medidas sugeridas pelo especialista estão o cultivo de plantas de cobertura para proteger o solo durante os períodos de entressafra, a implementação de sistemas de controle de erosão mais eficazes e a promoção de práticas agrícolas sustentáveis que promovam a saúde do solo e a retenção de água.
A crise no Rio Grande do Sul serve como um alerta para todo o País. “A colaboração entre agricultores, instituições de pesquisa, governo e comunidades locais é essencial para enfrentar os desafios colocados pelos desastres naturais e garantir um futuro sustentável para a agricultura”, conclui.
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