Nacional

Cobertura de água na Amazônia central está abaixo da média desde 2023 com duas secas recordes consecutivas

Pesquisa do Inpe e parceiros mostra que Amazônia Central perdeu 8% de cobertura de água nos últimos dois meses de 2023 em relação à média mensal


Agência Bori | 18/11/2024 | 04:00


Redução na cobertura da água traz dificuldade de acesso a alimentos e água potável na Amazônia. Na foto, Lago Tefé na seca de 2023 | Foto: Ayan Fleischmann/Acervo pesquisadores

A região central da Amazônia enfrentou uma redução histórica na área de águas abertas entre 2023 e 2024. Segundo um estudo publicado nesta quarta (13) na revista “Environmental Research Letters”, a cobertura hídrica da região diminuiu 8% nos últimos dois meses de 2023 em relação à média mensal.

O estudo, conduzido por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) em parceria com a instituições como a Universidade de Brasília (UnB), o Institut de Recherche pour le Développement (IRD), da França e a Universidade Tecnológica do Uruguai, alerta para um cenário crítico para 2024 e reforça a necessidade de medidas urgentes de mitigação.

O artigo alerta para uma estiagem ainda mais extrema em 2024. Os dados de outubro de 2024 já mostram uma diminuição de cerca de 18% na área de lagos maiores que 10 hectares em relação ao mesmo período do ano anterior.

Setembro de 2023 registrou 57.624 km² de águas abertas na Amazônia Central, enquanto o mesmo mês de 2024 contabilizou apenas 51.775 km², uma diferença de quase 6 mil km².

Para investigar os efeitos da seca do último ano sobre a extensão das águas abertas na Amazônia, incluindo reservatórios, rios e áreas alagadas, a equipe utilizou dados de sensoriamento remoto captados por Radares de Abertura Sintética, ou SAR.

Esses sensores coletam informações sob diferentes condições climáticas e mesmo na presença de nuvens, fornecendo retratos detalhados da região a cada 12 dias. Os pesquisadores analisaram mais de 1.500 imagens que abrangem o período entre 2017 a 2024 e observaram como as mudanças na cobertura de água se distribuíram e afetaram a área.

Algumas áreas experimentaram quedas ainda mais extremas, como o Rio Negro, que alcançou seu nível mais baixo em 120 anos. “A estiagem provém de uma combinação de fatores”, explica Daniel Maciel, autor do estudo.

“Houve um aumento extremo de temperatura. Em alguns lagos, o calor superou os 40 graus Celsius. Isso, somado ao aumento do desmatamento e dos incêndios florestais, contribui para intensificar e prolongar a época de seca”, argumenta o pesquisador. Novembro e dezembro de 2023 registraram os menores valores da cobertura de água desde o início da coleta de informações, em 2017, e lagos isolados tiveram reduções de até 80% em comparação com a média geral da estação seca.

A redução da água disponível afeta gravemente a biodiversidade e a subsistência de mais de 30 milhões de pessoas na região amazônica.

“A estiagem severa resulta em uma diminuição no acesso a alimentos, educação, remédios, transporte e água potável”, destaca Maciel. “Podemos ter uma mortalidade maior de peixes, a principal fonte de proteína animal nas comunidades mais remotas, e a seca também afeta a agricultura familiar, com a dificuldade de cultivar até a mandioca, cuja farinha é a base da alimentação de muitas pessoas”, continua o autor. Ele também explica que a diminuição do nível de água aumenta a ressuspensão de sedimentos pela ação do vento, o que pode ocasionar a floração de algas tóxicas.

O pesquisador Ayan Fleischmann, do Instituto Mamirauá, destaca que a seca extrema afeta grande parte da Bacia Amazônica em novembro de 2024, isolando milhares de ribeirinhos e exigindo ajuda humanitária emergencial.

“Distribuição de kits de tratamento emergencial de água superficial, por exemplo, tem sido realizada para melhorar o acesso à água potável, mas ações como esta precisam ser alavancadas”, diz o cientista. “Além disso, é fundamental que se invista em medidas preventivas, como acesso permanente à água potável e a melhoria e descentralização de serviços de saúde”, completa Fleischmann.

Segundo Maciel, os resultados demonstram a urgência de medidas assertivas para redução de danos.

“A redução do desmatamento, com controle, monitoramento e punição do desmatamento ilegal, o combate a incêndios florestais e o monitoramento em tempo real dessas ocorrências, o uso racional da água e a implementação de estratégias de longo prazo para combater as mudanças climáticas são algumas das ações importantes”, relata o autor. Os planos futuros da equipe incluem entender como a mudança na área alagada afeta a qualidade da água e como isso pode impactar a biodiversidade ao longo dos anos.


COMENTÁRIOS

Mais Lidas no mês


Turismo e Eventos

Veja a programação do Batatais Folia 2025, o principal Carnaval da região

Primeiro evento oficial será a escolha da Corte de Momo, já no mês de janeiro

Batatais

Prefeito Juninho Gaspar é eleito presidente do consórcio dos municípios da Alta Mogiana

Nova diretoria do Comam foi definida nesta quarta-feira para o biênio 2025/26

Economia

Opinião - Tecnologia, pessoas e sustentabilidade: os caminhos para o agronegócio brasileiro em 2025

Leia artigo de diretor de produtos para agro da Totvs sobre os desafios para o setor

Economia

Cientistas mapeiam microbioma de usinas em busca de maior eficiência na produção de etanol

Ao identificar em nível de cepa todos os microrganismos presentes no processo de fermentação da cana, estudo abre caminho para soluções capazes de aumentar lucros e reduzir emissões de CO2

Mais sobre Nacional

Nacional

Com 99% do Pantanal suscetível a perder espécies de anfíbios, são necessárias mais áreas de proteção

80% das espécies de anfíbios do Pantanal e entorno terão redução na distribuição geográfica por conta das mudanças climáticas até 2100

Nacional

Aparecida recebe 9 milhões de romeiros em 2024

Festividades religiosas e feriado cívico concentram 58% do movimento no segundo semestre

Nacional

Educação midiática forma jovens para combater desinformação

Segundo especialista, implementação da proposta nas escolas depende de projetos interdisciplinares

Nacional

Duas novas espécies de peixe são encontradas nas cabeceiras do rio Sapucaí

Como vivem entre 1.000 e 1.500 m de altitude, espécies são mais sensíveis a mudanças ambientais



Copyright © 2025 - BATATAIS 24h | Todos os direitos reservados.


É proibida a reprodução, total ou parcial, do conteúdo em qualquer meio de comunicação sem prévia autorização.



Byte Livre