Saúde

Aplicativo para celular auxilia na reabilitação de pessoas que sofreram AVC

Tecnologia contribui para que pacientes com redução de força muscular ou paralisia unilateral realizem atividades cotidianas e recuperem a consciência corporal perdida


Maria Fernanda Ziegler, Agência Fapesp | 01/04/2025 | 00:30


Os testes foram conduzidos em um centro de reabilitação e os pacientes foram consultados | Foto: Amanda Pereira

Pesquisadores brasileiros desenvolveram um aplicativo de celular que auxilia na reabilitação de pessoas que sofreram acidente vascular cerebral (AVC). A partir de um sensor (acelerômetro) que permite detectar a inclinação do próprio aparelho telefônico preso à roupa do indivíduo, o programa permite identificar a postura e avisar o usuário como melhorar o alinhamento corporal, seja por comando de voz, vibração ou por imagem.

O dispositivo atua na reabilitação de um problema conhecido como hemiparesia, uma das sequelas mais desafiadoras do AVC e que também pode surgir em decorrência de lesões no cérebro ocasionadas por doenças como esclerose múltipla, paralisia cerebral e alguns tipos de câncer. Nesses casos, ocorre a perda de força muscular ou paralisia parcial em um lado do corpo, além de prejuízos na consciência corporal.

“A pessoa com hemiparesia perde a sensibilidade e a percepção de organização espacial. Com isso, ela tomba para um lado, por exemplo, e não percebe que isso aconteceu, chegando até a apresentar dores musculares em virtude do mau posicionamento.

Acontece também que, sem a postura correta, ela não consegue executar tarefas cotidianas, como caminhar, cozinhar, dirigir ou subir uma escada, por exemplo. Dessa forma, tanto a consciência corporal quanto o controle do tronco, perdidos com o AVC, precisam ser reaprendidos para garantir a funcionalidade dos membros superiores”, explica Amanda Polin Pereira, atualmente professora do Departamento de Terapia Ocupacional da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e primeira autora do artigo publicado na revista JMIR Aging.

O desenvolvimento do software, concebido a partir de uma necessidade observada por Pereira, ocorreu durante o doutorado de Olibário José Machado Netobolsista da Fapesp no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (ICMC-USP). A pesquisa se deu no escopo de dois projetos apoiados pela Fundação e contou com colaboradores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP).

“Do ponto de vista de desenvolvimento de software, foi um trabalho de codesign que de fato uniu duas áreas de conhecimento distintas para atender às necessidades dos pacientes. Isso deu muita agilidade e embasamento para o desenvolvimento do aplicativo, que é totalmente único. Não há nada parecido na clínica que auxilie o tratamento e a reabilitação desses pacientes”, destaca Maria da Graça Campos Pimentel, professora do ICMC-USP e orientadora de Machado Neto.

Os testes foram conduzidos em um centro de reabilitação. Ao longo do processo, os pesquisadores entrevistaram fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais para compreender as necessidades de tratamento. Os pacientes em reabilitação também foram consultados.

“Além de gerar uma infinidade de dados para que futuramente seja possível ampliar o entendimento da hemiparesia, o aplicativo auxilia os pacientes na melhora postural durante essas sessões e permite que os terapeutas possam focar em outras questões de reabilitação, tornando o processo mais eficiente e preciso. Também estamos iniciando um estudo para o uso mais prolongado do aplicativo em casa”, afirma Pereira.

Menos é mais

Ao longo do projeto foram desenvolvidas três versões do app. “Iniciamos com a ideia de um aplicativo vestível, mas notamos que, quanto mais simples ele fosse, melhor seria a sua aceitação entre os pacientes. Por isso, focamos no desenvolvimento do software e, em vez de criar roupas especiais, optamos por costurar bolsos em tops ou regatas que pudessem fixar o aparelho de celular no tronco dos pacientes”, conta Pimentel.

“Por fim, criamos uma tecnologia vestível acessível, que aproveita os recursos de smartphones de baixo custo e de acelerômetros integrados ao celular para monitorar continuamente as mudanças [da direita para a esquerda e para frente e para trás], explorando os feedbacks visual, tátil e auditivo do dispositivo para orientar os pacientes em pé”, explica a pesquisadora.

Segundo Pimentel, o intuito final do trabalho é disponibilizar o aplicativo gratuitamente e alavancar novos estudos a partir dos dados gerados sobre hemiparesia. “O que precisamos agora é de uma colaboração para manter o aplicativo sempre atualizado, algo que demanda tempo de trabalho e investimento financeiro", afirma.

O artigo Wearable Smartphone-Based Multisensory Feedback System for Torso Posture Correction: Iterative Design and Within-Subjects Study pode ser lido clicando aqui.


COMENTÁRIOS

Mais Lidas no mês


Opinião

Opinião: Cientistas estão se preocupando mais com um número do que com impacto de suas descobertas

Leia artigo do químico Brenno A. D. Neto, professor da UnB

Batatais

Batatais é premiada pelo governo estadual por excelência educacional na alfabetização

A cidade foi premiada também pelo desempenho da escola Professora Anna Bonagura de Andrade pelos bons resultados no Saresp

Batatais

Exposição inédita em Batatais resgata memórias esquecidas através de objetos encontrados em livros

Visitação é gratuita e ocorre de segunda a sexta-feira na Estação Cultura

Cultura e Comportamento

Estudo aponta caminhos para enfrentar o bullying homofóbico nas escolas

Pesquisadores criaram classificação das estratégias de enfrentamento utilizadas pelos jovens em situações de assédio escolar

Mais sobre Saúde

Saúde

Aplicativo para celular auxilia na reabilitação de pessoas que sofreram AVC

Tecnologia contribui para que pacientes com redução de força muscular ou paralisia unilateral realizem atividades cotidianas e recuperem a consciência corporal perdida

Saúde

Normalmente usada como anticoagulante, heparina mostra potencial para tratar inflação pulmonar

Na pandemia, foi administrada a pacientes com Covid grave uma formulação enriquecida e inalável do fármaco; estudo sugere que pode ser útil contra pneumonia e bronquiolite, entre outras doenças

Saúde

Transtorno Bipolar exige atenção e cuidados para uma melhor qualidade de vida

Especialistas alertam para sinais da doença e reforçam importância do diagnóstico precoce e acompanhamento médico e psicológico

Saúde

Sarcopenia é indicador mais importante de risco de morte em idosos do que síndrome de fragilidade

Conclusão é de estudo que avaliou dados de 4,5 mil pessoas acompanhadas por 14 anos



Copyright © 2025 - BATATAIS 24h | Todos os direitos reservados.


É proibida a reprodução, total ou parcial, do conteúdo em qualquer meio de comunicação sem prévia autorização.



Byte Livre