Região

Baixa adesão compromete imunização contra a dengue

Apenas 36,6% das crianças e adolescentes de 10 a 14 anos que vivem em Ribeirão tomaram a primeira dose e só 16% voltaram para a segunda


Analice Candioto*, Jornal da USP | 25/02/2025 | 07:00


Fotomontagem de Jornal da USP com imagens de Governo do Estado de São Paulo | Foto: Flick / Freepik

Em abril do ano passado, a Prefeitura de Ribeirão Preto iniciou a vacinação contra a dengue entre crianças e adolescentes de 10 a 14 anos. Segundo o censo mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 40.156 moradores da cidade estão nessa faixa etária. No entanto, apenas 36,6% tomaram a primeira dose da vacina contra a dengue e a adesão à segunda dose foi ainda menor, somente 16%. 

O professor Benedito Antônio Lopes da Fonseca, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, atribui esses números à hesitação vacinal, fator determinante para a baixa cobertura da imunização. “As vacinas causam efeitos colaterais como toda droga. Se você beber muito ou comer demais, também terá efeito colateral. Mas, os efeitos adversos das vacinas são raros e elas são a solução para as doenças infecciosas.” Aqueles que receberam apenas a primeira dose da vacina ainda estão em risco, pois a imunização parcial não é ideal, alerta.   O professor ainda alerta: “Quem toma apenas a primeira dose pode desenvolver formas mais graves da doença. Já quem não se vacina corre o risco de precisar de internação, enfrentando a possibilidade de falta de leitos.” Destaca, ainda, que crianças infectadas podem transmitir o vírus para familiares, incluindo aqueles com comorbidades. 

Ampliação

Recentemente, o Ministério da Saúde recomendou que todos os estados e o Distrito Federal ampliassem a vacinação contra a dengue, contemplando assim pessoas de 6 a 16 anos de idade. Segundo o Ministério, foram enviadas 6,5 milhões de doses aos estados e municípios em 2024, mas apenas 3,3 milhões foram aplicadas e aproximadamente 1,3 milhão de jovens brasileiros que iniciaram o esquema vacinal não retornaram para a segunda dose. 

Em nota, a Secretaria da Saúde de Ribeirão Preto informou que não pretende ampliar a vacinação, pois as doses disponíveis têm validade até o final do ano. A diretora de Vigilância em Saúde, Luzia Márcia Romanholi Passos, destacou que a adesão à primeira dose entre crianças e adolescentes de 10 a 14 anos foi satisfatória. Segundo ela, essa procura permitiu seguir a orientação do Ministério da Saúde, que prioriza esse grupo na imunização contra a dengue. “No momento, a quantidade de doses recebidas atende apenas a essa faixa etária, não há um estoque suficiente para ampliar a vacinação para outros públicos”, explicou Luzia.

Ela também ressaltou que todas as Unidades Básicas de Saúde estão orientadas a verificar se os adolescentes elegíveis já foram vacinados. Além disso, pelo menos uma unidade é mantida aberta nos finais de semana para facilitar o acesso, especialmente para estudantes que não conseguem comparecer durante a semana.

Proliferação do mosquito

Em dados atualizados do Painel de Arboviroses da Secretaria da Saúde de Ribeirão Preto, desde o início do ano até 19 de fevereiro, a cidade teve 2.674 casos e dois óbitos confirmados. A zona leste continua sendo a região mais afetada, com 867 casos confirmados até o momento, e a zona sul registrou 564 casos positivos.

Com a chegada do Carnaval, o número de casos de dengue pode aumentar e Fonseca alerta que as pessoas se protejam. “Recomendo que passem um repelente adequado, ou seja, um que tenha duração prolongada, que possua a substância icaridina. Todos os repelentes que têm essa substância tendem a ter uma ação mais prolongada, com maior eficácia.”

O professor ainda lembra que é importante ficar atento a sinais como febre alta, dor no corpo e nas juntas, dor de cabeça, náuseas, vômitos e diarreia. “Quando os sintomas começarem a aparecer, pode começar a se hidratar, de quatro a cinco litros de água por dia e, se possível, utilizar soro de reidratação oral, disponível nas Unidades Básicas de Saúde. Para febre e dor, devemos usar paracetamol ou dipirona e até intercalar o uso”, diz o professor.

 

(*) Estagiária sob supervisão de Ferraz Junior e Rose Talamone


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