Saúde

A obesidade crônica é uma doença e uma epidemia global

Mais da metade dos brasileiros sofre com problemas relacionados ao sobrepeso e ao acúmulo de gordura corporal


Leonardo Ozima* | 23/09/2024 | 00:30


Questões genéticas também possuem grande influência no acúmulo de gordura e no desenvolvimento da obesidade | Foto: Ilustração: vectorjuice/Freepik

A obesidade é uma doença crônica, progressiva e recidiva, ou seja, que pode voltar a aparecer conforme o tempo. É uma epidemia global, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, a situação não é diferente, mais da metade dos brasileiros têm problemas com peso e com gordura corporal, 34% possuem obesidade e 22% possuem sobrepeso, segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Além disso, uma pesquisa apresentada no Congresso Internacional de Obesidade (IOC), de 2024, demonstrou que, caso as tendências atuais sejam mantidas, daqui a dez anos, 48% dos brasileiros serão obesos e mais 27% terão sobrepeso.Os dados da doença são muito alarmantes no Brasil e apresentam sérios riscos à saúde pública. Para a professora da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto (EEFERP) da USP Ellen Cristini de Freitas, atualmente vivemos em um ambiente obesogênico, isto é, um ambiente que promove fatores favoráveis para a disseminação da obesidade. “As causas da doença são multifatoriais, mas muitas estão ligadas a mudanças recentes no estilo de vida, como aumento do sedentarismo, uso excessivo de telas, alimentação inadequada e falta de acesso a alimentos ricos nutricionalmente, além de questões fisiológicas e psicológicas.”

Segundo a OMS, a obesidade pode aumentar a chance de contrair diversas doenças, principalmente cardiovasculares, como diabete tipo 2, hipertensão, acidente vascular cerebral e diversas formas de câncer. Para a professora Ellen, a obesidade é um precedente que agrava diversos problemas de saúde: “A obesidade não é uma condição isolada, ela é um fator de risco que pode agravar significativamente problemas de saúde, tornando a prevenção e o tratamento dessa doença uma prioridade para melhorar a saúde geral”.

Fatores biológicos e socioeconômicos

Questões genéticas também possuem grande influência no acúmulo de gordura e no desenvolvimento da obesidade, segundo Ellen. “Determinados tipos de genes podem influenciar o metabolismo, a saciedade, a distribuição da gordura corporal e a capacidade que o corpo tem em queimar calorias. Portanto, quando um indivíduo possui genes que facilitam o ganho de peso e o acúmulo de gordura corporal e, além disso, está em um ambiente obesogênico, existem grandes chances de se tornar obeso. Logo, a prevenção através de atividade física e alimentação adequada é a melhor saída para o combate à obesidade”, afirma a professora.

A obesidade também é fortemente afetada por questões socioeconômicas. Um artigo científico publicado na revista The Lancet revelou que um terço dos países mais pobres do mundo, além de sofrer com altos índices de subnutrição, também sofre com altas na obesidade. Isso se deve ao maior acesso a alimentos ultraprocessados e à falta de práticas de exercícios físicos. No contexto brasileiro esse cenário se mantém, devido à grande desigualdade social e à alta quantidade de pessoas em situação de vulnerabilidade social. 

Para a professora Ellen, fatores econômicos e sociais têm uma influência significativa na propagação da epidemia da obesidade no Brasil, pois afetam duas questões que impactam diretamente no ganho de peso e no acúmulo de gordura: “O acesso a alimentos in natura e de qualidade e a possibilidade de prática de exercícios físico”.

Os alimentos ultraprocessados são atraentes por terem um baixo preço e serem mais práticos de consumir em comparação com os alimentos in natura, além de serem hiperpalatáveis, isto é,  possuem uma combinação específica de açúcar, sal, gordura e texturas, e provocam uma resposta intensa de prazer no cérebro, mas são pouco nutritivos. Em comparação a isso, produtos naturais como frutas, verduras e proteínas magras apresentam preços elevados e são menos práticos, tornando-se inacessíveis para a população com baixa renda. 

Além disso, a professora afirma que rotinas de trabalho longas e exaustivas, combinadas com a falta de acesso à infraestrutura para prática de exercícios físicos, colocam pessoas com baixa renda em condições que favorecem o sedentarismo e o ganho de peso. Outro ponto que leva em consideração a questão econômica é o acesso à informação de qualidade a respeito de nutrição e saúde, contribuindo com escolhas erradas na alimentação e falta de atividade física. Portanto, a baixa renda e a vulnerabilidade social levam à insegurança alimentar.

Políticas públicas

O governo federal disponibiliza gratuitamente um guia alimentar para crianças com menos de dois anos, um guia alimentar para a população geral e um guia de como se exercitar, produzidos pelo Ministério da Saúde, como formas de combater a obesidade. O Sistema Único de Saúde (SUS) encara a obesidade como um fator de risco e uma doença. Pessoas com obesidade são identificadas e acolhidas através da Atenção Primária à Saúde (APS) pela equipe multiprofissional nas Unidades Básicas de Saúde, que faz o acompanhamento e, quando necessário, encaminha os usuários para a Atenção Especializada. Além disso, a Anvisa, por meio da  Resolução da Diretoria Colegiada 429, obriga que apareça nos rótulos dos produtos a indicação de nutrientes que têm relevância para a saúde, tais como açúcar adicionado, sódio e gordura saturada.

Apesar de ser uma questão multifatorial, a professora Ellen recomenda que,  para a prevenção da obesidade, é necessária uma alimentação saudável, aliada à diminuição da ingestão de alimentos ultraprocessados e ao aumento do consumo de alimentos in natura. “Toda essa reeducação alimentar deve estar associada ao aumento da atividade física. A OMS recomenda pelo menos 150 a 300 minutos de exercício físico de moderada intensidade por semana”, conclui.

 

(*) Estagiário sob supervisão de Ferraz Junior e Rose Talamone


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