Saúde

Fumaça do tabaco afeta desenvolvimento físico e cognitivo das crianças

Convívio com fumantes também pode levar à banalização do cigarro entre crianças e adolescentes


Ana Clara Casotti*, Jornal da USP | 19/09/2024 | 07:00


Crianças expostas à fumaça de tabaco, a longo prazo, podem desenvolver rinite, otite, laringite, amigdalite, bronquite, pneumonia e ter agravamento de crises asmáticas | Foto: Fotomontagem Jornal da USP com realworkhard/Pixabay, Freepik e Freepik

fumaça do tabaco contém mais de 7 mil substâncias tóxicas, das quais 250 são comprovadamente prejudiciais à saúde, e 69 estão diretamente ligadas ao desenvolvimento de câncer. Essa alta concentração de agentes nocivos torna qualquer nível de exposição ao tabagismo passivo perigoso, ou seja, não existe um limite seguro de contato com a fumaça.

No Brasil, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), o tabagismo é responsável por mais de 8 milhões de mortes anuais, sendo 1,2 milhão delas de pessoas não fumantes que sofreram os efeitos do fumo passivo. Os danos causados por essa exposição podem começar já na gestação, comprometendo o desenvolvimento do feto, e podem se estender pela infância, resultando em problemas de saúde que persistem ao longo da vida.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o hábito de fumar durante a gestação pode causar vasoconstrição dos vasos uterinos e placentários, comprometendo a oxigenação do feto e, consequentemente, o desenvolvimento pulmonar do bebê.

Em crianças, a exposição ao tabagismo passivo pode normalizar o hábito de fumar, além de provocar efeitos imediatos, como irritação das mucosas da boca, nariz, olhos e pulmões, bem como náuseas, dor de cabeça, tosse e coriza. A longo prazo, essa exposição pode resultar em condições como rinite, otite, laringite, amigdalite, bronquite, pneumonia e agravamento de crises asmáticas, além de aumentar o risco de câncer, doenças cardíacas e prejudicar a função respiratória.

O médico Pérsio Roxo Júnior, chefe da Divisão de Imunologia e Alergias Pediátricas do Departamento de Pediatria e Puericultura da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, os pais e cuidadores devem prestar atenção a outros sinais nas crianças, como o padrão respiratório, ou seja, como ela está respirando.

“Se a respiração está mais rápida ou ofegante, se a criança está tendo um quadro de tosse, que pode comprometer o sono durante a madrugada, além de olhos vermelhos, nariz congestionado, secreção e coriza.”

Pérsio alerta que a fumaça do cigarro também pode afetar a saúde cardiovascular das crianças. “Crianças que convivem com pessoas que fumam e inalam a fumaça tóxica podem ter a frequência cardíaca mais acelerada, podendo ficar mais agitadas.”

Banalização

O convívio com fumantes também pode afetar o desenvolvimento cognitivo das crianças. De acordo com a psicóloga do Hospital das Clínicas da FMRP Renata Panico Gorayeb, especialista em Psicologia da Saúde, Desenvolvimento Infantil e Dinâmica Familiar, conviver com fumantes pode manifestar problemas de comportamento e desenvolvimento cognitivo nas crianças.

Segundo a psicóloga, elas aprendem por imitação e, “vendo o adulto fumar, a criança percebe que é um momento que lhe dá prazer, então fica armazenado na cabeça dela que o fumo traz satisfação. Com isso, a criança vai banalizar ou generalizar, de forma inadequada, que o fumo é algo aceitável e positivo”.

Renata também afirma que o tabagismo na adolescência é uma forma do jovem buscar prazer ou diminuir a ansiedade, como uma válvula de escape, reproduzindo as atitudes que viu ao longo da vida. “Um dos principais motivos pelo qual o tabaco é tão difundido é porque ele é um ansiolítico muito eficiente. Não tanto quanto as medicações, mas por muito tempo ele fez esse papel na sociedade.”

Educação como prevenção

Para os especialistas, a educação é o caminho para evitar que crianças e adolescentes se tornem fumantes ao longo da vida. Pérsio diz que se pode enquadrar como educação a orientação, palestras e materiais acessíveis para o público em geral. “A orientação e a educação são essenciais para que as pessoas se conscientizem dos efeitos deletérios do cigarro e possam evitar que as crianças sejam expostas a ele”, afirma. 

Também para a psicóloga Renata, “a educação sobre os riscos do fumo, seja ele passivo ou não, é a melhor forma de impactar na decisão dos adolescentes”.  Além disso, a especialista também diz que a psicoeducação sobre os efeitos do fumo permite que o jovem reorganize e recodifique as informações vivenciadas para informações verdadeiras.

“Nós chamamos de psicoeducação a conscientização que fazemos sobre os efeitos físicos, psíquicos e afetivos que o fumo traz, assim como o que ele significa no universo social.” 

O autoconhecimento e a autopercepção dos jovens para o quanto são influenciados pelas ideias tabagistas também são passos importantes na psicoeducação, segundo Renata.

“A partir dessa ideia reestruturada, eles têm autocontrole para não embarcar em uma ideia que eles não aprovam.” Renata diz ainda que, quando tudo isso é analisado e conversado de forma clara com o jovem, a decisão de fumar ou não se torna mais fácil.

 

(*) Estagiária sob supervisão de Rose Talamone e Ferraz Jr


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