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Opinião - Eliminar o Aedes aegypti: um desafio na luta contra a dengue

Mosquito transmissor cresce em ambientes com resíduos e água parada, em volumes tão pequenos quanto uma colher de chá


Joziana Muniz de Paiva Barçante*, via Agência Bori | 08/02/2024 | 02:00


Melhor estratégia de prevenção contra a dengue, desde sempre, é a eliminação de criadouros do mosquito transmissor | Foto: Divulgação/Fiocruz

Nas últimas décadas, a incidência de dengue e de outras doenças causadas por vírus transmitidos por mosquitos tem aumentado em várias partes do mundo. Doença febril aguda causada por um vírus transmitido aos humanos pelas fêmeas dos mosquitos Aedes albopictus e Aedes aegypti, a dengue está presente em pelo menos 129 países, incluindo 22 países europeus.

Em 2023, foram registrados surtos significativos de dengue em países como Bangladesh, Sri Lanka, Tailândia, Vietnã, Peru e Bolívia e Brasil — este último concentrou mais de 75% de todos os casos das Américas. Para 2024 o cenário é ainda mais preocupante. Só no primeiro mês do ano, são mais de 217 mil casos já registrados, um aumento de 233% em relação ao mesmo período do ano passado.

A crise climática, sem dúvida, tem uma conexão direta com o aumento da incidência de dengue e de outras arboviroses, como Chikungunya e Zika. Isso porque temperaturas elevadas têm o potencial de estimular a eclosão dos ovos e acelerar o desenvolvimento das larvas do mosquito, reduzindo o tempo até a emergência dos adultos e sua reprodução. Além disso, a elevação da temperatura amplia a frequência de picadas pelas fêmeas.

Em climas mais quentes, a distribuição dos mosquitos no tempo e no espaço é afetada. Temperaturas mais altas favorecem a permanência dos insetos para além das estações do ano tradicionalmente mais quentes. Regiões no país consideradas, no passado, livres da dengue hoje têm um clima favorável ao desenvolvimento do mosquito, que tem uma vida dependente da água e cresce em volumes tão pequenos quanto uma colher de chá.

As condições climáticas extremas, como excesso de chuva, tempestades e inundações, podem aumentar as populações de mosquitos Aedes, pois geram poças de água rasas e paradas necessárias para sua reprodução. A seca também representa perigo, pois durante esses períodos, as pessoas tendem a armazenar água em embalagens que podem servir como criadouros, aumentando o número de focos do mosquito.

Uma das estratégias do mosquito A. aegypti que favorece o aumento do número de focos é que a fêmea não deposita todos os seus ovos de uma única vez. Ela faz posturas parceladas e em diferentes locais. Assim, quanto mais embalagens, potes e outros materiais que acumulem água disponíveis no ambiente, maior a possibilidade de novos focos. Além disso, uma vez depositados, os ovos podem ficar viáveis por mais de um ano no local. Ovos podem ser postos tanto em água limpa, quanto em água poluída com resíduos químicos, incluindo sal.

As fêmeas costumam picar as pessoas de manhã e final de tarde, mas mudanças do comportamento humano fazem com que elas adotem outros hábitos. Na ausência de uma fonte de alimentação nesses horários, a fêmea se adapta e pica os indivíduos à noite. Como agravante, o uso de repelentes ou inseticidas domésticos têm sido cada vez menos eficientes. A ocorrência de insetos resistentes a diferentes grupos de inseticidas tem sido registrada em diversas partes do mundo, incluindo o Brasil.

A vacina contra a dengue foi incorporada ao Sistema Único de Saúde (SUS), mas ela não protege contra outros vírus transmitidos pelo mesmo inseto e está restrita a crianças de 10 a 14 anos. A melhor estratégia de prevenção ainda é a eliminação dos criadouros do mosquito. Mais de 75% dos focos estão dentro de casa e eliminá-los é uma responsabilidade de todos.

 

(*) Joziana Muniz de Paiva Barçante é professora e pesquisadora do Departamento de Medicina da Universidade Federal de Lavras, coordenadora do Núcleo de Pesquisa Biomédica (NUPEB/UFLA) e presidente do V Simpósio Brasileiro de Doenças Negligenciadas e I Simpósio Mundial de Doenças Negligenciadas


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