Comerciante, que morreu nesta terça-feira (10) aos 80 anos, deixa lealdade e honestidade como legados à família e amigos
Uma pessoa amável, sorridente, responsável, amiga e, também, idealista. Essas são algumas das palavras usadas por amigos e familiares na despedida do comerciante Salem Georges Nessrallah, 80, que nesta terça-feira (10) deixou Batatais em luto.
Centenas de pessoas foram ao velório São Vicente de Paulo para se despedir de uma pessoa que, ainda aos 12 anos de idade, deixou o Líbano, seu país natal, com um tio para cruzar o oceano Atlântico e fazer sua vida em Batatais. Aqui, “ganhou” o nome de Salim e foi dono da Casa Nessrallah, que por décadas funcionou na avenida Nove de Julho.
Em Kfar Mechki, cidade a cerca de duas horas de distância da capital, Beirute, ficaram familiares que ainda hoje moram no Líbano.
Em Batatais, construiu amigos, constituiu família e trabalhou em favor dos mais necessitados, especialmente na Loja Maçônica Amor e União, da qual era membro havia 25 anos.
Já adulto, cursou a Escola de Comércio na segunda metade da década de 60. Foi onde conheceu o advogado Carlos Wanderley Laurato, que se tornou seu amigo desde então.
Trabalhava durante o dia e estudava à noite, no antigo prédio do Ieesa (Instituto de Educação Estadual Sílvio de Almeida), que abrigou também a escola do Sesi e hoje sedia o Centro Cultural Professor Sergio Laurato, na praça Barão do Rio Branco.
Embora não fosse brasileiro de nascimento –o que poderia gerar dificuldades com a língua portuguesa, por exemplo–, mas já há quase duas décadas no país, se destacava entre os melhores alunos da escola.
E trocava conhecimentos com todos. Nos intervalos das aulas, era comum ver Salem rodeado de amigos conversando com ele sobre a vida e os hábitos em seu país de origem. Eram tempos em que a palavra globalização talvez não existisse nem no dicionário e informações de outros países demoravam às vezes dias para chegarem ao Brasil.
Os amigos notavam que, intimamente, ele tinha orgulho de seu país, mas ao mesmo tempo tristeza devido aos conflitos internos no Líbano, que entre 1975 e 1990 viveu uma guerra civil.
“O Salem sempre demonstrou ser uma pessoa séria, com alto grau de honestidade e sincero no trato com as pessoas. Na escola tinha amizade com todos os alunos. Sempre demonstrou sinceridade e lealdade nas amizades. Era um cara respeitoso e muito inteligente”, disse Laurato.
A adaptação ao Brasil fez com que amigos o chamassem de “libanês mais brasileiro” que conheciam. Não gostava que os brasileiros falassem mal do próprio país e lamentava o que ocorria na política nacional.
“Brigava, no bom sentido, em defesa do Brasil, comparando-o ao Líbano, que além de guerras tinha muita pobreza. Um libanês de nascimento, mas brasileiro de coração”, afirmou o advogado.
A origem libanesa fez com que o dentista Carlos Eduardo Micelli, outro de seus grandes amigos, o chamasse carinhosamente de Turquinho.
“Nos conhecemos há exatamente 25 anos, através de nossa iniciação [na maçonaria] no dia 19 de setembro de 1992. Desde então, formamos uma grande amizade. Não só em função da maçonaria, mas pelo fato de comungarmos de atitudes sinceras e honestas. Era uma pessoa sensata e voltada para o bem da coletividade”, afirmou o dentista.
Para ele, Salem foi uma pessoa humilde e tolerante. “Sua passagem aqui na Terra foi digna de um grande maçom, que o Grande Arquiteto do Universo o receba de braços abertos e que seja amparado pela espiritualidade, para que possa continuar o seu progresso no Oriente Eterno. A Loja Amor e União perde uma de suas maiores colunas”, disse.
Salem receberia, na noite de segunda-feira (9), o título de maçom emérito, uma homenagem pelos serviços prestados à instituição nas duas últimas décadas e meia, mas seu estado de saúde se agravou –lutava contra um câncer– e ele precisou ser internado. Não resistiu. Seu corpo foi enterrado no cemitério paroquial Senhor Bom Jesus na tarde desta terça.
ENSINAMENTOS
Filho de Salem, Michel Nessrallah afirmou que o maior ensinamento que teve com o pai foi por meio de suas atitudes tomadas no dia a dia.
“Ele não falava para a gente como algo deveria ser feito, ele fazia as coisas corretas e nós aprendíamos muito com as suas atitudes”, disse.
Para ele, o tom afável do pai, o trato com as pessoas e as posições justas tomadas durante a sua vida fazem parte do legado deixado por Salem a todos que com ele conviveram.
“Sempre atendia todos muito bem, com sorriso no rosto e cordialidade. Essa é a imagem que todos nós guardaremos dele.”
Além de Michel, Salem deixa a mulher, a professora Luiza Santa Tomazela Nessrallah, a filha Samira e os netos Julia, Karime e Theo, além de uma legião de amigos.
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