A Prefeitura de Altinópolis anunciou nesta quinta-feira (11) que os acessos a 19 grutas localizadas no município estão interditados por tempo indeterminado.

A medida foi tomada após o recebimento de um laudo técnico elaborado por técnicos do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e do IPA (Instituto de Pesquisas Ambientais) sobre as condições da gruta Duas Bocas, cenário da tragédia que matou nove bombeiros civis soterrados no dia 31 de outubro.

O laudo indica que a geologia do local conta com vários planos de descontinuidades no teto, composto por arenito e de fácil absorção, e aponta a geometria irregular da superfície, condições que “favorecem a queda de blocos por desplacamento”.

Além de orientar sobre a interdição temporária para acesso a visitantes à Duas Bocas, o laudo recomenda a realização de monitoramento constante e sistemático também nas demais grutas na região, principalmente nos períodos chuvosos intensos, com o objetivo de identificar possíveis novas áreas instáveis.

O documento também recomenda "a realização de estudo geológico-geotécnico com análise estrutural do maciço rochoso, de suas descontinuidades, visando a estabilidade das paredes e dos tetos da gruta, identificando-se os blocos em balanço e zonas de blocos instáveis por escorregamento e/ou desplacamento e/ou, outros mecanismos a serem identificados".

Em nota assinada pelo prefeito, José Roberto Ferracin Marques (PSD), a prefeitura de Altinópolis afirma que os acessos ao interior de todas as 19 grutas da cidade, que constam do relatório gerencial do Ministério do Meio Ambiente, ficarão fechados até que mais estudos sejam apresentados.

A administração informou ainda que, nesta sexta, encaminhou ofício ao IPT solicitando apoio na realização de estudos voltados a garantir a segurança das grutas da cidade.

MAIS 6 VÍTIMAS SÃO OUVIDAS PELA POLÍCIA

Seis pessoas que estavam no treinamento de bombeiros civis promovido pela empresa Real Life e que terminou em tragédia foram ouvidos pela Polícia Civil de Altinópolis nesta quarta-feira (10). As oitivas compõem um inquérito instaurado pelo delegado Rodrigo Salvino Patto, que apura as suspeitas de homicídio e lesão corporal culposos (quando não há intenção de matar ou ferir).

No último dia 5, outras 12 pessoas foram ouvidas na delegacia de Altinópolis, incluindo o empresário Sebastião Abreu, dono da Real Life.

Na ocasião, Abreu reafirmou o que sua empresa já havia publicado em nota: que foi feita uma análise de risco na gruta dias antes da tragédia e que, no início do treinamento, no fim da tarde de sábado (30), não havia chuva.

“O treinamento era feito cerca de um metro para dentro da mesma para praticar imobilização de vítimas e busca e salvamento em mata”, diz um trecho da nota. As explicações seguem dando conta de que, por volta das 20h, teria começado a chover muito forte, levando os instrutores a cancelarem o treinamento.

A TRAGÉDIA

As vítimas teriam ido descansar na gruta, pois era necessário esperar a chuva passar para poder subir a trilha de volta com os equipamentos que portavam. Durante o descanso, veio a tragédia. Por volta da 0h40 a gruta cedeu sobre os bombeiros civis.

Às 3h, a Defesa Civil de Altinópolis foi acionada para atender a ocorrência do desmoronamento na gruta, que fica numa propriedade particular. A prefeitura da cidade vizinha alega não ter sido informada das atividades que seriam desenvolvidas no local.

Morreram na tragédia os bombeiros civis Celso Galina Júnior, líder do grupo, Jennifer Caroline da Silva, Jonatas Ítalo Lopes, Natan de Souza Martins, Rodrigo Triffoni Calegari, Ana Carla Costa Rodrigues de Barros, José Cândido Messias da Silva, Débora Silva Ferreira e Elaine Cristina de Carvalho. As vítimas tinham entre 18 e 53 anos.

Outros dois participantes do treinamento, Wallace Ricardo da Silva, 31, e Antônio Marcos Caldas Teixeira, 28, este morador de Franca, foram resgatados com vida, ficaram hospitalizados por mais de uma semana, tiveram alta e se recuperam em casa.