Saúde

Diretor do Instituto Butantan 'condena' decisão de Zé Luís de abrir comércio

Dimas Tadeu Covas, médico batataense que atua na linha de frente de combate ao novo coronavírus, disse que autoridades poderão ser responsabilizadas no futuro por possíveis consequências graves caso mantenham decisão


Melissa Toledo - Editora de Conteúdo | 19/04/2020 | 19:11


O médico batataense Dimas Tadeu Covas, diretor do Instituto Butantan, em coletiva na capital | Foto: Reprodução

O momento é crítico; a epidemia está se deslocando para a região; a vida é sagrada; o comércio não essencial tem que permanecer fechado; autoridades não podem expor pessoas a riscos e, se não houver o controle ideal, vai faltar leitos e respiradores em Batatais.

É este o diagnóstico resumido traçado pelo médico batataense Dimas Tadeu Covas, diretor do Instituto Butantan, em São Paulo, diretor-presidente do Hemocentro de Ribeirão Preto e professor da USP. Ele, que assumiu há dez dias a coordenação da recém-criada Plataforma de Laboratórios para Diagnóstico da Covid-19, administrada pelo Butantan, concedeu entrevista à rádio Difusora Batatais, neste domingo (19), na qual respondeu também perguntas do portal Batatais 24h.

Um dos principais pontos da entrevista foi a avaliação que Covas fez sobre a decisão do prefeito de Batatais, José Luís Romagnoli, de autorizar a reabertura do comércio não essencial a partir do próximo dia 23, quinta-feira.

Para o especialista, a medida pode ter consequências graves e a decisão não tem nenhum embasamento científico.

“Isso é derivado dessa discussão que não faz nenhum sentido (sobre a dicotomia saúde versus economia). É obvio que economia é importante e sustenta a sociedade, mas neste momento o desafio é outro. É um desafio de guerra”, afirmou.

Segundo o médico, todas as atividades não essenciais que podem ser postergadas devem permanecer sem funcionamento para evitar que seja grande o número de pessoas atingidas e, consequentemente, de mortes.

“As autoridades são responsáveis por atitudes agora que, lá na frente, vão resultar em mortes, em mais ou menos mortes, e tem que ter muita responsabilidade”, disse. “A vida é sagrada, é o bem mais precioso. Abertura de comércio significa você expor um grande número de pessoas a riscos desnecessários e as autoridades públicas poderão responder por isso”, completou.

Ele foi enfático ao afirmar que estudos mostram que o processo de interiorização da doença está em andamento. “A epidemia está se deslocando para o interior do Estado, obedecendo a uma lógica que são as vias de mobilidade, os grandes eixos rodoviários, as grandes cidades e, a partir delas, as cidades menores”, disse, completando que o momento é crítico, decisivo e é preciso que todos estejam cientes da importância da manutenção das medidas de distanciamento social.

FALTAM LEITOS

O médico traçou ainda uma estimativa da necessidade de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) em Batatais para quando a epidemia se instalar efetivamente.

“Batatais tem pouco mais de 60 mil habitantes e tem oito leitos de UTI na Santa Casa. Se você considerar uma taxa de infectividade de 3%, que foi o que aconteceu nos melhores lugares (como Alemanha e Coreia do Sul), você gera em torno de 1.800 pacientes contaminados”, disse.

Covas afirmou que, desse total, estima que entre 450 e 460 se tornariam pacientes graves (internados) e, destes, cerca de 114 precisariam de remoção para UTI --o que corresponderia à necessidade de se ter 22 leitos de UTI por mês (considerando cinco meses de epidemia e cada leito servindo a dois pacientes por mês, já que cada um o utiliza por, em média, 15 dias), segundo ele.

Em um cenário mais preocupante, com uma taxa de infecção de 9%, a necessidade de leitos em UTI subiria para 385, o correspondente a 77 leitos por mês, durante cinco meses, na avaliação do médico. “Isso já seria o suficiente para não se ter nenhum tipo de condição de atendimento desses pacientes que precisariam de UTI.”

Segundo o médico, a conclusão é que, se não houver o controle correto da epidemia, vão faltar leitos de UTI e pacientes em estado grave terão de ficar em leitos comuns, sem respiradores. “E aí se cria um caos na saúde, como aconteceu na Itália. É um cenário muito ruim, mas é um cálculo que precisa ser feito, porque a epidemia virá, isso é inevitável e as pessoas ainda não perceberam isso.”

Covas afirmou que o cenário já está “desenhado” por estudos e que a prática ou não do isolamento social é que será determinante para o resultado. “Só não temos os detalhes, mas sabemos exatamente o que vai acontecer (...) E o fato de você ficar em casa não é para evitar que a epidemia venha, é para diminuir a velocidade com que ela virá”, afirmou.

Por fim, ratificou que a abertura do comércio dará velocidade à epidemia. “Se eu libero a circulação, se eu libero o comércio, dou velocidade para a epidemia. Isso acontece num intervalo de tempo de 15 a 20 dias, então se eu libero (...), de imediato não se vai observar nada. Vai se observar o resultado daqui a 15 ou 20 dias, quando vai haver um aumento de casos.”

O prefeito José Luís Romagnoli disse na manhã de sexta-feira (17) que a volta do funcionamento do comércio da cidade foi discutida em reunião com o presidente da ACE (Associação Comercial e Empresarial) de Batatais, Ennio César Fantacini, realizada na quinta-feira (16).

Segundo o prefeito, o retorno das atividades comerciais consideradas não essenciais se dará mediante a adoção de uma série de medidas sanitárias pelos estabelecimentos. “Vamos preparar e passar as regras neste fim de semana, para que, no dia 23, as pessoas já voltem, mas voltem dentro do cumprimento dessas regras”, disse.

CASOS DE COVID-19

Segundo a Secretaria da Saúde de Batatais, a cidade tem hoje três casos confirmados de Covid-19, doença que já acometeu 38.654 pessoas e matou 2.462 no Brasil, segundo o Ministério da Saúde. Um dos pacientes batataenses, um homem de 73 anos, segue internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto.

Há ainda na cidade outras seis pessoas que apresentaram sintomas da doença, tiveram material colhido para testagem de coronavírus e aguardam o resultado do exame.

Outro dado importante é que o município soma ao todo 140 “notificações relacionadas ao coronavírus”. Destes, 25 pacientes foram testados por suspeita da doença (16 foram descartados), mas entram na conta outras 115 pessoas que apresentaram sintomas de gripes e resfriados, foram avaliadas por médicos e receberam orientação de permanecerem em isolamento domiciliar por 14 dias com monitoramento.


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