A comissão organizadora da Festa do Leite 2019 se esforçou para manter as tradições, resgatou o desfile de abertura, houve boa organização estética no recinto, a quantidade de seguranças parece ter sido eficiente e a qualidade do som do palco foi inquestionável.

Mas sabemos que o evento já foi bem maior em termos de relevância agropecuária, artística, prestígio, e que isso respingou no número de visitantes.

Em nove dos dez dias, Batatais presenciou uma festa esvaziada.

E não dá para culpar somente a crise econômica pela qual o país passa --que é real--, já que festas agropecuárias simultâneas em cidades próximas tiveram sucesso de público, inclusive recebendo excursões que partiram de Batatais.

Reflexões precisam ser feitas pelos organizadores, e eu começaria pelo projeto de comunicação --um dos pontos essenciais para o sucesso de um evento.

O bom jornalismo é mais relevante do que o marketing, a publicidade em geral, as mídias sociais e outras ferramentas juntas e precisa haver estrutura para sua prática e respeito com os seus profissionais.

A relação honesta, transparente e respeitosa com a imprensa, além de essencial, é o ponto de partida para a construção da imagem de um evento.

A festa tem 44 edições e ainda trata jornalismo com desatenção. Todo o processo é, para dizer o mínimo, amador.

A falta de cuidado fica nítida antes da festa, passa pelo processo de credenciamento e entrega de credenciais que acontecem num tom absolutamente desrespeitoso e se estende durante e no pós-festa.

Jornalismo não se compra e sua moeda de troca é a informação de qualidade e o respeito com o profissional.

Qualquer evento precisa de um planejamento estratégico de comunicação para saber “conversar” com o seu público, e me parece que a Festa do Leite não soube.

Falta um local com ponto de apoio, informações centralizadas e profissionais do setor de comunicação atuando; organização de entrevistas ou coletivas com organizadores da festa, competidores, atletas, expositores, promotores de eventos internos menores e porta-vozes do evento; não há um press kit (material de divulgação voltado à imprensa) nem nenhum tipo de reunião de lançamento/apresentação da festa para jornalistas. Não se divulga um balanço com números transparentes e resultados.

Com exceção do intermédio entre jornalistas e produções de shows do palco --feito com empenho por uma funcionária da prefeitura (Dayana) que fez o que pode com o que tinha ao alcance-- demandas simples dos veículos de comunicação (como informações sobre rodeios, torneios, exposições, palestras, premiações, programação interna, horários etc.) ficam à deriva.

Antes de se pensar no evento do próximo ano, a comissão organizadora precisa considerar que a relevância da Festa do Leite é, sim, gigante, vai muito além do entretenimento e dos negócios diretos dentro do recinto.

Ela reflete diretamente na movimentação financeira de incontáveis setores, tem potencial gigante para beneficiar demais a cidade e, por isso, é preciso tratá-la com mais carinho e eficiência.

*Melissa Toledo é jornalista, radialista e publicitária. É editora deste Portal Batatais 24h e atua na rádio Difusora, emissora para a qual cobre a Festa do Leite há cerca de 20 anos

**Texto originalmente publicado na edição de 20 de julho de 2019 do Jornal da Cidade