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Estudo da Nature analisa mais de 4.000 espécies e mostra que é preciso grandes áreas de floresta para preservar diversidade

Pesquisa foi conduzida por pesquisadores da Universidade de Michigan, de universidades brasileiras, entre elas Unesp, USP, UFPB e Unicamp


Agência Bori | 25/03/2025 | 04:00


Lavoura de cana localizada na mata atlântica em Alagoas; estudo mostra que grandes extensões de floresta não perturbada são melhores para abrigar a biodiversidade | Foto: Adriano Gambarini/Divulgação

Florestas grandes e intocadas são melhores para abrigar a biodiversidade do que paisagens fragmentadas, de acordo com um novo estudo publicado na revista Nature.

Há consenso entre ecólogos de que a perda de habitat e a fragmentação das florestas reduzem a biodiversidade nos fragmentos remanescentes. No entanto, há debate sobre a priorização da preservação de muitas áreas pequenas e fragmentadas ou de grandes paisagens contínuas. O estudo liderado pelo ecólogo brasileiro da Thiago Gonçalves-Souza, da Universidade de Michigan, chega a uma conclusão sobre esse debate que já dura décadas.

“Fragmentação é prejudicial. Este artigo mostra claramente que a fragmentação tem efeitos negativos sobre a biodiversidade em diferentes escalas. Isso não significa que não devamos tentar conservar pequenos fragmentos quando possível, mas precisamos tomar decisões sábias sobre conservação”, afirma Gonçalves-Souza.

O estudo foi conduzido por pesquisadores da Universidade de Michigan, da Universidade Estadual de Michigan e mais dez universidades brasileiras, entre elas Unesp, USP, UFPB e Unicamp. Eles analisaram 4.006 espécies de vertebrados, invertebrados e plantas em 37 locais ao redor do mundo. 

O objetivo foi fornecer uma síntese global comparando diferenças de biodiversidade entre paisagens contínuas e fragmentadas. Os pesquisadores descobriram que, em média, as paisagens fragmentadas tinham 13,6% menos espécies na escala do ponto de coleta (chamada pelos autores de “escala da mancha”) e 12,1% menos espécies na região (chamada de escala da paisagem).

Além disso, os resultados sugerem que espécies generalistas —aquelas capazes de sobreviver em diversos ambientes— são as que predominam nas áreas fragmentadas.

Os cientistas investigaram três tipos de diversidade nesses locais: alfa, beta e gama. A diversidade alfa se refere ao número de espécies em um fragmento específico, enquanto a diversidade beta mede a diferença na composição de espécies entre dois locais distintos. Já a diversidade gama avalia a biodiversidade de toda a paisagem.

Gonçalves-Souza usa um exemplo para ilustrar o conceito: ao dirigir por campos agrícolas no Norte do Espírito Santo, pode-se notar pequenos fragmentos de floresta entre as plantações de cana ou pastos com criação de gado. Cada fragmento pode abrigar algumas espécies de aves (diversidade alfa), mas a composição dessas espécies pode variar de um fragmento para outro (diversidade beta). Já a biodiversidade total da paisagem—seja composta por fragmentos ou por uma floresta contínua—representa a diversidade gama da região.

“O cerne do debate é que algumas pessoas argumentam que a fragmentação não é tão ruim porque, ao criar habitats isolados, geramos composições diferentes de espécies, o que pode aumentar a diversidade gama”, explica Gonçalves-Souza. “Por outro lado, argumenta-se que, em áreas contínuas e homogêneas, a composição de espécies é muito semelhante.”

No entanto, pesquisas anteriores não compararam adequadamente paisagens fragmentadas e florestas contínuas, afirmou Gonçalves-Souza. Por exemplo, alguns estudos analisaram apenas um componente da diversidade ou compararam um pequeno número de florestas contínuas com dezenas de fragmentos.

“Nossa pesquisa mostrou que, ao utilizar dados padronizados e controlar a distância entre fragmentos, a fragmentação do habitat tem efeitos negativos sobre a biodiversidade,” diz o coautor Mauricio Vancine, ecólogo e pesquisador de pós-doutorado da Unicamp. “Isso tem implicações teóricas para a Ecologia e, mais importante, reforça que a fragmentação não pode ser vista como benéfica para a conservação das espécies.” 

Para corrigir essa limitação, os cientistas levaram em conta as diferenças na amostragem entre diversas paisagens. Eles descobriram que a fragmentação reduz o número de espécies em todos os grupos taxonômicos e que o aumento da diversidade beta nas paisagens fragmentadas não compensa a perda de biodiversidade na escala da paisagem.

Além da biodiversidade, Gonçalves-Souza diz que a fragmentação das paisagens também compromete sua capacidade de armazenar carbono. “Ou seja, a fragmentação não apenas reduz a biodiversidade, diminuindo a diversidade alfa e gama, mas tem implicações para a prestação de serviços ecossistêmicos como o estoque de carbono.”

O pesquisador espera que o estudo ajude a comunidade conservacionista a superar o debate sobre paisagens contínuas versus fragmentadas e focar na restauração de florestas. “Em muitos países, restam poucas florestas grandes e intactas. Portanto, nosso foco deve estar no plantio de novas florestas e na restauração de habitats cada vez mais degradados. A restauração é crucial para o futuro, mais do que debater se é melhor ter uma grande floresta ou vários fragmentos menores.”


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