Adultos jovens reconhecem mais a necessidade do consumo de alimentos funcionais em comparação a adultos de meia-idade, que os entendem como medicamentos
Alimentos funcionais são aqueles que proporcionam mais benefícios para a saúde do indivíduo além das funções básicas de nutrição. Alimentos in natura, minimamente processados, que são fontes de ômega 3 e de fibras beta-glucanas, como peixes, chia, linhaça e aveia, além de alimentos processados como iogurtes com adição de probióticos, são exemplos dessa classificação. Pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) constataram que a população adulta reconhece a necessidade de incluir esses alimentos na dieta, mas ainda desconfia de seus reais efeitos na saúde. Os resultados estão publicados na edição de sexta (22) da revista científica “Brazilian Journal of Food Technology”.
O trabalho comparou a percepção sobre alimentos funcionais de adultos jovens, de 18 a 44 anos, e de meia-idade, de 45 a 65 anos. Ao todo, foram avaliadas as respostas de 522 homens e mulheres por meio da aplicação de dois questionários que abordaram aspectos de renda, educação e condições de saúde. Os cientistas também observaram atitudes relacionadas ao consumo de alimentos funcionais, avaliando a percepção das necessidades, benefícios, confiança e segurança dos consumidores.
Em relação à necessidade dos alimentos funcionais na dieta, os adultos jovens se mostraram mais favoráveis em comparação com o grupo de meia-idade, ainda que ambos reconheçam seus benefícios. “Adultos jovens percebem melhor a necessidade dos alimentos funcionais, entendem que é preciso incluí-los como parte da rotina e os relacionam com o próprio bem-estar”, explica Ângela Giovana Batista, professora da UFJF e coordenadora da pesquisa. Já os mais velhos entendem os alimentos funcionais como medicamentos. “É uma faixa etária que já enfrenta algumas doenças que vêm com a idade e veem nesses alimentos uma forma de cuidar da saúde ou compensar outros hábitos pouco saudáveis, como não praticar exercícios ou não fazer dieta, por exemplo”.
O estudo também constatou que aspectos de renda e de escolaridade afetam diretamente essa percepção em ambas as faixas etárias analisadas. Pessoas com ensino médio completo representaram 53% dos que se mostraram favoráveis aos alimentos funcionais. E a renda alta foi diretamente proporcional a uma boa percepção dos alimentos funcionais, principalmente no grupo de meia-idade. Adultos deste grupo com renda familiar mensal acima de quatro salários mínimos compõem 40% dos que se disseram favoráveis a esse tipo de alimento.
Ainda que o estudo indique uma boa relação dos participantes com esses alimentos, as afirmações do questionário relacionadas à confiança receberam pontuações mais baixas em todos os aspectos. “Notamos um certo ceticismo sobre o que é divulgado em relação aos alimentos funcionais. Os mais jovens tendem a confiar mais se um alimento é recomendado por profissionais de saúde, mas desconfiam do que é propagado por publicidade ou de profissionais fora do ramo da saúde”, conta Batista. Já os adultos de meia-idade parecem confiar mais em estudos que confirmam a funcionalidade dos alimentos, mas demonstram preocupação com o consumo excessivo deles, o que pode estar relacionado à visão desses alimentos como medicamentos que devem ser consumidos na dosagem adequada.
“Acreditamos que essa desconfiança está relacionada com a falta de informação de qualidade sobre esses alimentos e também ao seu acesso, o que conversa com os dados de renda e escolaridade”, avalia Batista. Além da melhora do poder aquisitivo dos consumidores, uma percepção mais positiva sobre os alimentos funcionais, segundo a pesquisadora, passaria por melhorar o acesso a informações sobre esses produtos. Ela sugere a utilização de selos de qualidade que garantam a segurança e a veracidade das informações desses alimentos para aumentar a confiança dos consumidores.
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