O Dia da Vitória (8 de maio de 1945), que todos sabem tratar-se da comemoração da grande façanha dos pracinhas brasileiros na Segunda Grande Guerra Mundial (1939-1945), nos relembra também horrores que uma guerra produz.

Relato uma história, dentre muitas histórias que a própria história da Segunda Grande Guerra não relatou. E o que digo me foi passado pelo próprio personagem que vivenciou o seguinte fato...

“Intensa artilharia das forças armadas varreu uma área nas proximidades de Montese, na Itália, preparando o caminhar da infantaria brasileira que por ali fez acampamento. Logo se formaram patrulhas que partiram em reconhecimento da área e tomando terrenos antes usados pelos inimigos. Cada uma para cada lado. Numa delas, dois soldados que firmaram amizade ainda em Caçapava, no Brasil.

Após a eliminação das trincheiras que sobraram do intenso bombardeio, os soldados receberam ordens para voltar ao acampamento. Os dois, um tanto afastados dos demais, também retornavam quando foram surpreendidos por uma rajada de metralhadora que restara por ali.

Trocaram tiros até que aquela silenciou. Um dos soldados foi gravemente atingido na altura das coxas, acima dos joelhos, e o outro soldado colocou o companheiro nos ombros sob os protestos do ferido, que dizia ‘Me larga, senão vamos morrer os dois’.

Mas, resoluto, usando o fuzil como cajado, caminhou até avistar as luzes do seu acampamento, já que anoitecia. Ali, com poucas forças, desceu dos ombros o companheiro próximo a um arbusto, fincou a baioneta com seu fuzil no solo gelado e, com seu blusão, fez uma cobertura para seu companheiro. Deixando-o ali, foi buscar auxilio.

Quando retornaram, encontraram aquele soldado sem vida.

O soldado autor desta façanha foi o homem que deu vida a mim e aos meus irmãos, Flávio, Maria Aparecida e Cristovam. Nos deu nome e sobrenome.

Seu nome era João Garcia Fernandes.”

(*) João do Prado Garcia Fernandes é advogado e empresário, filho do sr. João Garcia Fernandes, um dos 25 mil pracinhas brasileiros que foram aos campos de batalha na Itália durante a Segunda Guerra